A rentabilidade de um investimento em uma usina solar fotovoltaica está diretamente relacionada à performance operacional do ativo. Um desempenho abaixo do esperado pode resultar em receitas inferiores às projetadas, comprometendo o retorno sobre o investimento. Além disso, para empreendimentos destinados à venda futura, a eficiência operacional pode impactar o valor de mercado da planta em um processo de due diligence.
Neste cenário, é importante que os stakeholders monitorem constantemente as métricas de desempenho do sistema instalado, como o Performance Ratio (PR), Fator de Capacidade (FC), tempo médio entre falhas e disponibilidade dos ativos. Esses indicadores são referências para detectar reduções de eficiência que podem prejudicar a geração de energia, bem como embasar decisões estratégicas, como a necessidade de repensar os procedimentos de manutenção para otimizar tanto o rendimento energético como a vida útil operacional da usina.
O PR é um dos indicadores mais utilizados para medir o desempenho operacional de uma planta fotovoltaica. Ele representa a relação entre a energia realmente gerada e disponível para exportação à rede elétrica (já descontando as perdas) e a energia teórica máxima que poderia ser gerada caso não houvessem as perdas.
Estudo de caso: sensibilidade de indicadores financeiros à variação do PR
Uma usina solar fotovoltaica hipotética de geração centralizada com benefício i5 (50% de desconto), de 300 MW/390 MWp, localizada em um ponto genérico do estado da Bahia, com produtividade de 2228 kWh/(kWp x ano) foi simulada pela Greener para verificar o impacto de uma incerteza de 10% em torno de seu PR projetado (82%) nos indicadores financeiros Valor Presente Líquido (VPL) baseado no IPCA, Taxa Interna de Retorno (TIR) e Fluxo de Caixa Livre (FCL).
Como os preços dos PPAs ainda apresentam valores relativamente baixos, mas com tendência de crescimento nos próximos meses e anos, adotou-se uma curva de preços com base em dados históricos, dados divulgados publicamente e pesquisas de mercado.
Além dos valores estimados de PPA, as premissas relacionadas aos indicadores macroeconômicos e custos como CAPEX e OPEX foram as mesmas utilizadas no Capítulo 7 – Estudo de Caso do Estudo Estratégico Grandes Usinas Solares 2024.
A variação de 10% no PR provocou uma flutuação de 24% na TIR, indicando uma sensibilidade deste indicador às mudanças na eficiência operacional. A TIR nominal de 12% pode variar 3 p.p para mais ou para menos. Essa volatilidade em resposta às variações no PR sugere que a performance operacional pode alterar significativamente a atratividade do investimento.
O VPL (IPCA) mostrou uma sensibilidade ainda maior, variando aproximadamente 32% para a mesma incerteza de 10% no PR. Para essa usina hipotética, era esperado uma geração de valor de R$1,1 bi e, como consequência, tal variação poderia resultar em uma geração de R$730 mi ou, para a variação positiva, atingir R$1,4 bi.
Já o FCL, por sua vez, foi o indicador menos sensível à mudança no PR. O lucro da usina (desconsiderando juros e amortização) para o primeiro ano de operação, projetado em R$121 mi, pode passar a ser de R$136 mi (+12%) com uma melhora no rendimento da usina, ou de R$106 mi (-12%) no caso de queda na produtividade.
Estes resultados mostram a possibilidade de pequenas variações no desempenho operacional dos ativos resultarem em implicações relevantes sobre a viabilidade econômica do projeto. Logo, a gestão eficaz do PR é importante não apenas para a operação técnica da usina, mas também para a sua sustentabilidade financeira.
O desempenho operacional é afetado pelas características de projeto, construção e O&M dos parques solares. As causas podem estar tanto atreladas à energia teórica prevista, como modelagem inadequada, perdas não relacionadas, layout não projetado para retrofit; quanto à energia real gerada, como diferenças entre a implementação e o projeto, paridade de desempenho entre datasheet e equipamentos, indisponibilidade da rede da distribuidora local e O&M inadequado ou insuficiente.
Os resultados aqui apresentados são específicos deste caso. Cada empreendimento possui suas particularidades, que farão com que os índices financeiros sejam mais ou menos sensíveis à performance da usina.
O entendimento de como as incertezas na performance podem afetar os retornos financeiros do investimento é fundamental para uma avaliação mais precisa dos riscos e a definição de estratégias de mitigação adequadas, como a inclusão de margens de segurança nos cálculos ou a escolha de tecnologias e operadores com histórico comprovado de alta confiabilidade e desempenho.
A estratégia de monitorar as métricas de desempenho e aprimorar a performance operacional do ativo não só sustenta a viabilidade financeira como também fortalece a posição competitiva da usina no dinâmico e desafiador mercado de energia.
Adicionalmente, comparar os resultados com benchmarks do setor pode fornecer insights valiosos. Embora cada projeto seja único, dados de desempenho de outras usinas solares na mesma região ou com tecnologias similares podem ajustar o projeto e identificar melhores práticas.